Google afirma em documento que teria conseguido atrasar leis de privacidade na Europa

Na última sexta-feira (22) foi publicado um memorando interno do Google, onde, em 2019 a empresa afirma ter conseguido “atrasar regulamentos de privacidade na Europa, trabalhando nos bastidores, lado a lado, com outras empresas de tecnologia”. A informação foi publicada no mesmo dia pelo site The Nytimes.

Segundo o site, os detalhes apareceram em uma versão não editada de uma ação movida pelo estado do Texas e 11 outros estados, que argumentava que o Google abusou de seu domínio sobre a indústria de tecnologia acerca do fornecimento de anúncios aos consumidores online.

Big Techs estariam preocupadas com novo regulamento de anúncios sem utilização de cookies

A movimentação do Google com as demais big techs contra a regulamentação envolvendo privacidade estaria intimamente relacionada a uma proposta de lei que restringe os anúncios com base nas informações obtidas por cookies dos usuários. A proposta está em fase final de negociação e, uma vez aprovada, dificultará a exibição massiva de anúncios nas principais redes sociais e navegadores – o que parece estar aflingindo o Google.

Segunda a proposta de lei, os anúncios massivos exibidos atualmente podem impactar negativamente os usuários, empresas e a sociedade, passando desde o risco de discriminação e segmentação predatória de pessoas vulneráveis , à ampliação da desinformação online e à ameaça aos processos democráticos e ao vasto cenário de fraudes publicitárias embutidas no sistema atual.

Documento prova lobby contra regulamentação de privacidade

Os detalhes publicados pelo memorando explanam uma situação já conhecida pelo mercado, porém pouco vista na prática: grandes empresas agindo contra a privacidade de seus usuários. Nos últimos anos, legisladores de todo o mundo propuseram leis para limitar o poder de mercado das principais empresas de tecnologia. Seja para restringir o uso de dados do consumidor ou definir novas regras para moderar o conteúdo gerado pelo usuário.

Um porta-voz do Google, por sua vez, declarou que só porque o procurador-geral do Texas, Ken Paxton, “diz algo, não o torna verdade”.

“Temos sido claros sobre nosso apoio a regras de privacidade consistentes em todo o mundo”, continuou o porta-voz.

Facebook, Apple e Microsoft estariam envolvidas no lobby

Segundo publicado pelo Times, o memorando contido nos autos do processo envolvendo o estado do Texas citava “um documento preparado com antecedência” de uma reunião de agosto de 2019 “entre as cinco empresas Big Tech – incluindo Facebook, Apple e Microsoft”.

Na época, o Google supostamente estaria tentando impedir as regulamentações de privacidade na Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos e na legislação do Congresso, de acordo com a denúncia. A empresa também expressou preocupação com as ações de outras empresas de tecnologia envolvidas no debate sobre privacidade. O Google disse que teve problemas para fazer o Facebook “alinhar-se com nossos objetivos e estratégia de privacidade” e que a rede social “priorizou a conquista de reputação em detrimento de seu interesse comercial em debates legislativos”.

O Google também temeu estar sendo ameaçado pela Microsoft no tocante à privacidade, segundo relatado no processo. No documento preparado para a reunião, a empresa afrima que Kent Walker, um alto executivo do Google, afirmou que a empresa deveria “encontrar o alinhamento” com a Microsoft sempre que possível, mas “deveria ser cauteloso com sua atividade” e “buscar obter o máximo de informações possível sobre seus passos em privacidade”.

Via: nytimes.com